
O que o fim da pandemia reserva para a digitalização da saúde

Muito já se falou sobre a Covid-19 como uma crise sem precedentes. Mas é preciso olhar para outros aspectos, especialmente as transformações que a pandemia acarretou em diferentes setores da sociedade, como a aceleração do processo de digitalização da saúde.
Para discutir os vários pontos da questão, este post traz os dados do relatório Digitalização, Resiliência e Continuidade dos Negócios, elaborado pela Cisco e Deloitte. Aqui, o foco é o aprendizado com a Covid-19 e as perspectivas para o chamado “novo digital” no Brasil, para os setores da saúde, educação, justiça e governo.
O documento aborda como as ferramentas digitais têm um papel importante para essa nova fase e foi construído com base em entrevistas com especialistas, relatórios de mercado, notícias, dados públicos e outras fontes. Confira a seguir as principais informações para a área da saúde brasileira!
Como estava o mercado da saúde brasileiro na pré-pandemia?
No Brasil, 78% da população utiliza o Sistema Único de Saúde (SUS), enquanto 22% tem acesso aos serviços privados. Em 2019, o gasto total do SUS somou R$ 228,4 bilhões e o das operadoras de saúde totalizou R$ 218,9 bilhões.
A digitalização da saúde, antes da pandemia, já começava a ganhar força no país, especialmente com a telemedicina, que é a oferta de serviços médicos a distância. Essa tecnologia foi regulamentada pelo Conselho Federal de Medicina (CFM) em 2002, com a Resolução 1.643 com o objetivo de assistência, educação e pesquisa na saúde, porém com pouca clareza sobre as modalidades permitidas.
A teleconsulta, por exemplo, ainda não era tão difundida até porque batia de frente com o Código de Ética Médica que proíbe que o médico prescreva tratamentos e outros procedimentos sem o exame direto do paciente.
Modalidades de telemedicina
Dados da pesquisa TIC Saúde com 99.003 estabelecimentos de saúde, que ofereciam serviços de telemedicina em todo o país em 2018, mostraram que:
12% eram da modalidade telediagnóstico — emissão de laudo de exames ou parecer médico a distância;
10% eram de telemonitoramento — supervisão médica para monitoramento a distância de parâmetros de saúde;
8% eram de teleinterconsulta — troca de informações e opiniões a distância entre médicos.
O relatório da Cisco e Deloitte aponta ainda que o mercado brasileiro de tecnologia em saúde teve um crescimento nos últimos 10 anos, com produtos e serviços ligados diretamente à telemedicina.
Como a Covid-19 impactou a digitalização da saúde?
Para se adaptar a esse novo cenário, o Ministério da Saúde e o Governo Federal regulamentaram a telemedicina de forma temporária, com:
a Portaria 467/20 — permite atendimento pré-clínico, de suporte assistencial, consulta, monitoramento e diagnóstico, utilizando os recursos digitais;
a Lei 13.989/20 — autorizou o uso da telemedicina em caráter emergencial.
É possível ver como a pandemia acelerou a digitalização na saúde, visto que essas medidas permitiram a teleconsulta, ou seja, a consulta médica a distância mediada pela tecnologia.
Assim, esse processo foi essencial para que as pessoas continuassem a receber atendimento médico, evitando a exposição à Covid-19 com idas a consultórios ou serviços de pronto-socorro. Em outras palavras: trouxe segurança para pacientes e médicos, colaborando também para o isolamento social.
A tecnologia chegou inclusive ao SUS, com o TeleSUS, possibilitando o atendimento pré-clínico por aplicativo, chat online, WhatsApp e telefone. Esse serviço, de abril a junho, permitiu o encaminhamento de 2 milhões de pacientes para teleconsultas.
A ferramenta digital do SUS conta ainda com o consultório virtual nos postos de saúde por atendimento via telefone ou videoconferência.
Evitar o colapso do sistema de saúde
Devemos destacar ainda que a adoção da teleconsulta já se mostra importante para evitar o colapso nos sistemas de saúde no futuro devido à demanda relacionada a outras doenças e problemas de saúde. Ela contribui também para a continuidade do atendimento de pacientes com doenças crônicas.
É que 88% dos pacientes estão evitando realizar consultas médicas presenciais ou ir aos hospitais por medo da contaminação com o novo coronavírus. Inclusive, os dados da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) mostram que as operadoras tiveram uma queda de 19% nas despesas de assistência médica durante a pandemia.
Quais são os desafios que o setor de saúde enfrentará no cenário pós-pandemia?
É inegável como a digitalização na saúde, que se intensificou com a pandemia, vai crescer ainda mais. Isso porque a tecnologia que temos hoje já dá o suporte necessário para o amplo uso da telemedicina.
Os dispositivos vestíveis e a inteligência artificial (IA) vão potencializar ainda mais o serviço médico a distância, criando um sistema de gestão de saúde de qualidade. Relógios conectados à Internet que permitem a medição de sinais vitais, por exemplo, possibilitam o acompanhamento médico a distância.
Já a inteligência artificial pode ser uma ferramenta para agilizar o primeiro atendimento, fazendo o encaminhamento necessário de acordo com as respostas do paciente.
Portanto, torna-se urgente o investimento em tecnologia para não perder espaço no mercado.
Contudo, há ainda muitos desafios a serem enfrentados no país, como:
garantia de infraestrutura mínima para que os recursos digitais possam funcionar adequadamente e permitir o atendimento a distância;
formação médica e capacitação digital para que os profissionais possam utilizar da melhor maneira a telemedicina;
segurança dos dados para garantir a confidencialidade, autenticidade e privacidade no serviço médico a distância;
regulamentação, que no momento é temporária, para que os médicos tenham segurança jurídica para utilizar todos os recursos que a tecnologia oferece;
discussão sobre a remuneração do médico nesse tipo de atendimento, tanto no SUS como no setor privado.
Quais são benefícios que a digitalização da saúde acarreta para o mercado?
O atendimento digital foi impulsionado pelas restrições de distanciamento social da pandemia e se mostra importante devido a seus benefícios, como:
maior acesso à saúde pela população, inclusive de cidades mais afastadas de grandes centros;
ampliação da cobertura de atendimento;
redução de custos para o SUS e as operadoras de planos de saúde, pois permite um acompanhamento mais regular de pacientes, evitando complicações e, consequentemente, internações;
ganho de tempo para o paciente, evitando deslocamentos;
eficiência no diagnóstico, pois otimiza a comunicação e a discussão de casos clínicos entre os profissionais de saúde;
menor exposição das pessoas ao vírus ao evitar aglomerações em clínicas ou hospitais.
A pandemia da Covid-19 trouxe um novo cenário em diversos setores da sociedade, abrindo espaço para a digitalização da saúde. O destaque é a adoção da telemedicina, um recurso importante para ampliar o atendimento médico, facilitar o acompanhamento dos pacientes e reduzir custos.
Fonte: sharecare.com.br